Tuesday, February 20, 2007

A Direita Livre

Inicio esta colaboração no projecto “Pátria e Povo” desejando aos nossos leitores os votos de que apreciem este esforço conjunto, meu e do amigo João Gomes, para a exposição construtiva e profícua das opiniões de dois jovens interessados na actividade da Polis. O “Pátria e Povo” é, antes de mais, um blogue cujo propósito passa por demonstrar aquelas que são as nossas duas visões sobre um determinado tema da actualidade. Iniciadas as “hostilidades”, bem-vindos!
A primeira pergunta com que me deparo, dado o propósito deste veículo, é: “Que sentido fará, nos dias de hoje, a manutenção da dicotomia Direita-Esquerda?”.

A dualidade Direita-Esquerda e a generalidade das suas doutrinas-satélite têm a sua origem nos tempos da Revolução Francesa. Acontecia que nos “Estados Gerais”, assembleia legislativa onde estavam representados os 3 estados sociais (1º estado, o rei e o clero; 2º estado, a nobreza; 3º estado, a restante população), o 2º estado sentar-se-ia do lado direito do presidente da assembleia, enquanto o 3º estado sentar-se-ia do lado esquerdo. Desta forma, a Direita representava os monárquicos e todos os que defendiam o Antigo Regime, sendo que me parece óbvio que esta definição de Direita é hoje obsoleta. Ainda assim o conceito persistiu até hoje. Há então que procurar o caminho que liga o século XVIII até Fevereiro de 2007.

Qual então o elo de ligação entre a Direita de então e a Direita de hoje? O Conservadorismo? A prossecução pela manutenção dos valores do equilíbrio, da ordem e da evolução mitigada com determinados valores ético-morais? Não creio.

No meu entender, o elo de ligação entre a Direita do século XVIII e a eventual Direita do século XXI é o Liberalismo, enquanto doutrina que tem como ideia base o desenvolvimento da liberdade individual. Assim é, pois tal como no século XVIII, a generalidade das doutrinas conotadas com a Direita de hoje partem todas do indivíduo, por oposição a possuírem o seu ponto de partida na colectividade. Neste sentido, pretende-se o desenvolvimento do indivíduo enquanto ele mesmo, em vez de considerá-lo uma mera unidade social, como a Esquerda tende a fazer desde o período da Revolução Francesa até à actualidade.

Em suma, devo concluir que a dicotomia continua a ser-nos útil nos dias que correm. Enquanto as doutrinas de Esquerda continuarem a serem tomadas como eventualmente válidas e o espectro do seu grilhão colectivista pairar sobre os homens, continuará a fazer sentido lutar por uma unificação das doutrinas mais úteis sob o conceito de Direita. Estará assim garantida a persistência na posição de defesa do indivíduo enquanto ser livre de optar e de agir no respeito pelos outros indivíduos, que tal como ele são livres.
João Prazeres de Matos

11 comments:

Luís Brandão Pereira said...

Boa sorte para o projecto.

Gustavo Gouveia said...

Não estou de acordo
João, nos assuntos que dividiram a nossa sociedade recentemente, a Direita marcou-se sempre por colocar a decisão da colectividade que é o estado, em frente a uma decisão indevidual, a uma liberdade pessoal.
No tema do aborto, a direita votou em força pelo Não, defendendo que o estado deve interferir e tomar pela mulher a decisão de levar uma gravidez até ao fim;
Num tema da permissão aos casais homossexuais de se oficializarem em casamento, a direita vota Não porque considera que o Estado deve impedir duas pessoas de terem um estatuto face ao estado que ambas desejam, a de casados;
Num tema de igualdade de generos, a extrema direita insiste em que o estado deve decidir quem reside e quem não reside em Portugal, fazendo uma diferenciação entre as pessoa. A extrema esquerda recebe todos de braços abertos
Só para dizer que discordei de ti. Mas acho que vou adorar o blog=)

João Prazeres de Matos said...

Caro Gustavo,

Vejo-me obrigado a refutar os teus argumentos.

A frase que escolhi para terminar o post não foi, de todo, inocente. No que concerne à questão do aborto a questão do indivíduo ganha contornos de extrema importância. Isto porque é sempre uma questão de, no mínimo, dois indivíduos, senão três. Refiro-me, obviamente, à mãe, ao filho e em terceiro lugar, ao pai. A liberdade destes três indivíduos, o direito à vida do segundo mencionado, são tipicamente atropelados pela esquerda moderna.

Quanto ao casamento homossexual, mais uma vez é uma questão de respeito pela liberdade individual daqueles que, como seres heterossexuais, capazes e voluntariosos gozam do direito que lhes assiste a casar, entendendo o casamento como algo “bastante específico”. O casamento, como sabes, é um instituto que surgiu há bem mais que 34 anos, sendo que sempre definiu a união sacralizada entre um homem e uma mulher. O estado laico, talvez de forma errada, talvez não, absorveu o formato. Acredito que seja possível atribuir, em sede de compromisso administração-utente, aos casais homossexuais, todos os direitos e deveres atribuídos aos casais heterossexuais casados. Agora, chamar a isso casamento…? Lamento, mas não.

Quanto à questão da residência não faço intenção de me referir. As expressões extrema-direita e extrema-esquerda dizem tudo. São extremos. São tipicamente classificações grotescas, enquanto direita e esquerda, para algo que não é um nem outro. São as duas demasiadamente semelhantes para serem extremos opostos. E não creio que valha a pena usar o gastíssimo cliché dos extremos que se tocam.

Ou seja, obrigado pelas opiniões Gustavo, mas tenho mesmo que discordar delas.

Abraço,
JPM

David Martins said...

Gustavo,

Para a direita as questões que dizem respeito ao individuo não devem estar sob o controlo do Estado excepto quando o exercicio de uma liberdade atenta a outra. (Eg: Aborto)

O casamento entra homossexuais não é proibido, o que é proibido são os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Mas aparte, o que é que estes dois assuntos têm a ver com Direita/Esquerda?

Os EUA, por exemplo, foi o pais mais identificado à Direita foi o 1º a ter o aborto livre.

Em Portugal é usual misturar-se questões individuais com as colectivas.

A Direita e a Esquerda deve-se preocupar com o Estado. As relações individuais, a liberdade, a ética, isso é de cada um.

João Matos,

Gostei deste inicio, vou estar atento.

David Martins said...

"O casamento de homossexuais

"Os EUA, por exemplo,o pais mais identificado à Direita ,

perdoem-me os erros LOL

João Prazeres de Matos said...

Obrigado pela visita, David!
Volta sempre, que és bem-vindo!

Luís Brandão Pereira said...

"O casamento entra homossexuais não é proibido, o que é proibido são os casamentos entre pessoas do mesmo sexo."

Podes explicar o sentido desta frase?É que sinceramente não percebi: ora o casamento entre homossexuais não é poibido,sendo homossexuais entendido por pessoas que gostam de pessoas do mesmo sexo,mas logo a seguir dizes que o que é proibido é o casamento entre pessoas do mesmo sexo.Ora,não há aqui uma pequena contradição?LOL

Espero que expliques...

João Prazeres de Matos said...

Se o David não se importar, eu explico, caro Luís...
É prefeitamente possível um homem homossexual casar-se com uma mulher e vice-versa. Assim como também é possível uma mulher homessexual casar-se com um homem homossexual.
Ou seja, o que se pretende dizer é exactamente o que foi dito: os homossexuais podem casar-se à vontade... Desde que com pessoas de sexo oposto, obviamente!
De relembrar aquilo que eu frisei num comentário anterior, ou seja, o casamento é um instituto próprio que define uma união entre pessoas de sexos diferentes. Não queiram chamar à união entre duas pessoas do mesmo sexo "casamento". Qualquer bom dicionário vos desmente!

Abraço!

Gustavo Gouveia said...

Boas
Era minha inteção ao referir casamento entre homossexuais, fosse um casamento homossexual e portanto que establecesse uma relação homossexual.
Mas se calhar com estas questões desviei-me da ideia central, e a minha argumentação nao foi convincente. Tento expôr-me de outra maneira então:
A direita identifica os homens e as mulheres segundo estatutos diferentes, reconhece X direitos a um homem e Y direitos a outro. Esta diferenciação pode advir da côr da péle de X, da opção sexual de Y, do sexo de Z, do nível de educação de P e do capital propriedade de U. A esquerda interpetra todos os homens e mulheres como iguais, e portadores dos mesmos direitos
Obrigado

João Prazeres de Matos said...

Isso não é verdade. Todos temos direitos e deveres diferentes, consoante inúmeros factores diferentes, inclusivé os que apontaste. A própria esquerda os reconhece.
Um indivíduo A que possui licenciatura em medicina, pode exercer. Um individuo B que a não possui, não pode por razões óbvias.
Um indivíduo C que aufere um salário a ese nível, pode ser taxado a 42% em sede de IRS. Um indivíduo D que não aufere esse salário, não pode por razões que nada têm de óbvio.
Um indivíduo E que pretende casar com uma senhora, pode fazê-lo.
Um indivíduo F que tem por "opção sexual" casar com uma irmã sua, não o pode fazer.
Estes são alguns exemplos do mais óbvio possível que a atribuição de direitos iguais a todos poderá criar. Tentei utilizar argumentos imediatos e um deles relacionado com algumas doutrinas de esquerda (a tributação progressiva). Espero que tenha conseguido ser claro.
Obrigado, abraço!

David Martins said...

Reitero tudo o que foi dito pelo João.